Democracia em vertigem: é preciso resistir para existir, Coração Valente

por Luana Pantoja Medeiros

postado em jun. 2019

eu temo que nossa democracia tenha sido apenas um sonho efêmero”

 

            Sobre o filme Democracia em vertigem transmitido pela Netflix, eu como pesquisadora e feminista, lanço um olhar marginal a qual somente é possível através da alteridade, do meu lugar de fala. No entanto, eu não poderia deixar de fazer esta análise, não somente por mim, mas por todas as mulheres ativistas sociais, historicamente marginalizadas e silenciadas sob o viés da opressão de classe e de gênero.

            O documentário que faz um recorte da história política no Brasil a partir do olhar de uma mulher Petra Costa, em síntese, estrutura o que aconteceu nos governos de Lula e Dilma (PT). Relembramos os grandes desafios de Lula, ainda jovem, metalúrgico, um operário que discursava para uma multidão de trabalhadores. Quem das políticas de esquerda não se identifica com este homem? É um dos nossos! Pobre, nordestino que venceu a fome e a miséria em um país que nunca ofereceu oportunidades que amparasse nossas diferenças e nossas necessidades, nunca se preocupou com a fome e sede no Nordeste, e nunca enxergou o Norte.

            Lula é um vencedor, sem dúvida, é um homem de uma inteligência e aptidão para a política sem precedentes, Lula faz política.  Que erro Lula cometeu com as políticas de coalizão com a direita que nunca abriu mão de estar no poder? Era preciso “fazer aliança até com judas” para que um de nós pudesse governar um país com uma democracia tão jovem.

            Cito aqui somente alguns dos sujeitos silenciados, a classe trabalhadora, os homens e as mulheres da classe trabalhadora. Se um homem operário está à margem social, a mulher está à margem dele, não podemos esquecer a opressão de caráter sexista.

            Dilma lutou contra a repressão no golpe de 1964, foi presa e torturada, idealizou o sonho de instaurar a democracia em nosso país. Lutou junto à classe trabalhadora e se tornou o braço direito de Lula, sua sucessora.

            Protagonizou um ato histórico em nosso país por duas vezes, e por duas objeções, seria ela a primeira mulher a usar a faixa presidencial do Brasil, foi eleita e reeleita, e sofreu impeachment em 2016, por razões que tiveram de ser “muito bem pensadas” pelos que articularam, então as “pedaladas fiscais” configurando crime de responsabilidade, “houve legalidade” entre estas e tantas aspas.  

            A maior fraude em nosso sistema democrático. Foi destituída porque não soube governar como homem. A maior vergonha para nossa república que ela ajudou a construir com seu próprio sangue. Ela não era igual ao Lula, era a sombra dele, ninguém viu Dilma senão uma sombra de Lula. A mulher, a Cobra, a Estuprável, a Esquizofrênica  mal vestida, mal amada.

            Dilma Rousseff  teve um lugar subalterno no documentário!     

            Lula não pode continuar preso, estamos vendo a farsa cair diante de nossos olhos como um espetáculo de horrores. Lula é um preso político. Mas é aterrorizador pensar que só temos Lula, e quando ele não estiver? O que acontecerá com nossas políticas, com o nosso partido?

            E Dilma? para sempre coração valente, legitimou políticas identitárias, do Norte ao Sul. Mas neste documentário, a história tem nos mostrado que a invisibilidade nos mata, é o que Foucault chama de “deixar viver ou deixar morrer”. Dilma foi à primeira mulher a se tornar presidenta, mas será se terá o lugar que lhe conceda a visibilidade? Um lugar subalterno equivale a não existir.

            Cito ainda Beauvoir, ao usar o termo Hegeliano, ser é ter se tornado, é ter sido tal qual se manifesta. As mulheres em conjunto são inferiores ao homem, isto é, sua situação oferece-lhes possibilidades menores mesmo quando podemos tanto quando um, mesmo quando somos tanto quanto um, mesmo quando ocupamos o mesmo lugar de um.

            E para finalizar, Dilma ao ocupar o lugar de coadjuvante na história deste filme Democracia em Vertigem, pode ser um possível apontamento para a perpetuação dos nossos lugares implícitos que as mulheres das políticas de esquerdas ainda precisam dialogar entre si e com os camaradas. Enquanto isso “a história será implacável com os que se julgam vencedores” e a “história julgará a todos nós”

            Sábias palavras da companheira Presidenta Dilma Rousseff.

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