Fundamentos teóricos da Educação Ambiental na Educação infantil

            Em se tratando do desenvolvimento infantil, todos os seus aspectos precisam ser valorizados. A infância é um período crucial para formação da personalidade dos indivíduos em todos os aspectos: psicológicos, físico-motor, emocional, social e essa “interação social torna-se espaço de constituição e desenvolvimento da consciência do ser humano desde que nasce” (VYGOTSKI, apud PARÂMETROS DE QUALIDADE PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, 2008, p.14).

            Segundo Vygotski, o desenvolvimento e a aprendizagem da criança ocorrem a partir da relação que tem “no seu cotidiano, observando, experimentando, imitando recebendo instrução das pessoas mais experientes de sua cultura, aprende a fazer perguntas e também obter respostas para uma série de questões” (2008, p.76).

            A educação infantil é a maior responsável pela promoção do desenvolvimento da criança como um todo, e o ensino nesta fase da vida do ser humano contribui para mudanças significativas nas presentes e futuras gerações. Motivo que leva a crer que priorizando o trabalho de EA junto as crianças a expectativa de mudanças de atitudes e hábitos dessa nova geração em relação ao meio ambiente é possível. Como considera os Parâmetros de Qualidade para a educação Infantil, quando enfatiza “que [...], a criança é um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvimento” (2008, p.14). Então desenvolver a educação enfatizando o meio ambiente como fundamental para a vida, a criança aprenderá que é preciso adotar atitudes e comportamentos que garantam uma boa relação de sua vida com o seu meio ambiente. Além do mais a educação infantil já produz uma relação intima de cooperação com

  [...], a visão da criança como ser que é parte da natureza e do cosmo merece igualmente destaque, especialmente se considerarmos as ameaças do esgotamento de recursos em nosso planeta e as alterações climáticas evidentes nos últimos anos. Conforme alerta Tiriba (2005), os seres humanos partilham a vida na terra com inúmeras espécies animais, vegetais e animais, sem as quais a vida no planeta não pode existir (PARÂMETROS DE QUALIDADE PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL, 2008, p.14).

                 Acredita-se que as crianças orientadas e ensinadas a cuidar e respeitar os recursos naturais disponíveis para a sua sobrevivência e de suas futuras gerações, saberão utilizar esses recursos de maneira responsável e consciente de que a vida no planeta depende de cada um que vive nele.

            Por isso é necessário que seja promovido EA desde a educação infantil e em todas as outras etapas da educação do ser humano como garante as legislações em vigor.

            Fazendo uma leitura dos conceitos sobre educação ambiental se percebe que há uma variedade de concepções e de ideias a seu respeito. Neste caso será utilizado o conceito definido na Conferência de Tbilisi, UNESCO, 1977, que diz que a EA:

É um processo contínuo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência de seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir - individual e coletivamente - e resolver os problemas ambientais presentes e futuros (apud DIAS, 2002, p.66).

            Ao desenvolver a EA dentro ou fora da escola é preciso ter a compreensão de que é preciso considerar o meio ambiente em sua totalidade, e que não existe uma idade específica para o seu desenvolvimento, devendo, portanto ocorrer desde o nascimento à vida adulta, desde a educação infantil até as séries iniciais, a universidade e as pós-graduações.

            Essa é a ideia contemporânea de EA enfatizada por Dias, que leva o ser humano à sensibilização a respeito do “meio ambiente (como funciona, como dependem dele e como o afetam)” (DIAS, 2002, p.67), provocando uma participação efetiva das pessoas na preservação e conservação do meio onde vive.

            Segundo Reigota o meio ambiente é “um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais” (2009, p.36). Mas destaca que existem outros, por isso deve se reconhecer que é importante que haja um diálogo constante com os mais variados conceitos que existem e a partir deles os grupos construírem os seus próprios conceitos. Para Reigota a EA tem uma grande relevância para a tomada de consciência pessoal e coletiva, por isso

O processo pedagógico de educação ambiental como educação política enfatiza a necessidade de se dialogar sobre e como as mais diversas definições existentes, para que o próprio grupo (alunos e alunas e professores e professoras) possam construir juntos uma definição que seja a mais adequada para se abordar a problemática que se quer conhecer e, se possível resolver (2009, p.37).

            Então as definições devem ser construídas por cada grupo e as consequências disso serão as distintas definições sobre a EA.

            A EA exerce papel fundamental nas transformações na vida de quem a desenvolve e consequentemente na vida dos que estão ao seu entorno, pois o ser humano ao se apropriar desses conhecimentos passa de objeto para sujeito ativo na construção da tomada de consciência. Talamoni e Sampaio acreditam que “a educação ambiental é mediadora da apropriação, pelos sujeitos, das qualidades e capacidades necessárias à ação transformadora responsável diante do meio em que vive” (2008, p.12). É importante que se diga também que a EA não pode “se restringir ao ensino de ecologia e ao ensino de ciência” (TALAMONI; SAMPAIO, 2008, p.11). Ela deve ser trabalhada em todas as disciplinas, principalmente contextualizada com a realidade do educando e com o cotidiano da escola, havendo co-responsabilidade tanto dos professores, gestores e demais membros da comunidade escolar, quanto da comunidade e das famílias. Tolamoni e Sampaio alertam que a EA não pode ser utilizada na escola como ‘doutrinamento’, mas que todos sintam-se responsáveis conjuntamente em cuidar e preservar o meio onde vive, pois é dele que se tira o sustento para garantir a vida.

            A EA é um processo de transformação e construção de uma boa relação humana com o meio ambiente onde vive e se relaciona, ou seja, os sujeitos do meio devem se sentir responsáveis e comprometidos com a sua vida e do outro, resultando num processo de “apropriação/transmissão crítica e transformadora da totalidade histórica e concreta da vida dos homens no ambiente” (TALAMONI E SAMPAIO, 2008, p.12).

            Nesta perspectiva educativa em que é considerada a EA Dias (2002) relata que o seu conceito moderno considera o meio ambiente como um todo e está presente em todas as pessoas independente de sua idade, tanto dentro como fora do espaço escolar de forma contínua e sintonizada em suas realidades sociais, econômicas, culturais, políticas e ecológicas estimulando e orientando o educando para o exercício de sua cidadania.

            Temos a plena consciência que a EA sozinha não resolverá os graves problemas ambientais ocasionados pelo mau uso dos recursos naturais pelo homem, contudo é o caminho para a tomada de consciência e consequentemente para as mudanças de atitudes e comportamentos em relação ao meio, do qual depende para garantir a sua sobrevivência e permanência no planeta Terra. “Claro que educação ambiental por si só não resolverá os complexos problemas ambientais planetários” (REIGOTA, 2009, p.18), e nem é com essa pretensão que vemos a EA, porém como ele mesmo destaca que a EA é um dos meios que contribuirá significativamente na formação da consciência ambiental de cidadãos e cidadãs conhecedores de seus direitos e deveres sobre o meio ambiente.

            Essa também é uma compreensão de Carvalho quando ressalta em seus escritos que a EA eleva no indivíduo a sensibilização e a capacidade de se fazer uma “leitura do mundo do ponto de vista ambiental”, ou seja, a EA “estabelece-se como mediação para múltiplas compreensões da experiência do indivíduo e dos coletivos sociais em suas relações com o ambiente” (2008, p.79). Assim sendo a EA é um dos meios mais eficazes para levar o indivíduo a refletir sobre as suas ações e seus comportamentos em relação ao mundo em que vive e principalmente do essencial em sua vida que é o meio ambiente. Caso não sejamos cuidadosos com os recursos naturais responsáveis pela vida no planeta Terra, corremos sérios riscos de extinção, como já ocorreu com várias espécies que nele viviam.

 

Referências Bibliográficas

BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil, vol. I. Ministério da Educação Básica. Brasília, 2008.

CARVALHO, Izabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2008.

DIAS, Genebaldo Freire. Iniciação a temática ambiental. São Paulo: Gaia, 2002.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. Revista e ampliada: São Paulo: Brasiliense, 2009 (Coleção primeiros passos).

TALAMONI, Jandira L. B. e SAMPAIO, Aloísio Costa. Educação Ambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras Editora, 2008 (Educação para a Ciência; 4).

 

Ciência PolíticaPolíticas PúblicasPolíticas Públicas de Meio AmbienteEducação Ambiental → Fundamentos teóricos da Educação Ambiental na Educação infantil